segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Não gosto desta SOPA nem dos tachos novos!


Temos sido confrontados nos últimos dias com duas séries de notícias preocupantes no que diz respeito aos métodos de comunicação eletrónica atuais:

     -  uma tem a ver com a proposta de lei n.º 118 do Partido Socialista, que pretende taxar todos os equipamentos eletrónicos de acumulação de dados, na presunção de que todos os utilizadores vão usar esses ditos equipamentos para pirataria eletrónica;

     -  a segunda é a proposta de lei dos Estados Unidos conhecida como SOPA (Stop Online Piracy Act).

Ambas estão relacionadas e ambas nos afetam, embora a primeira mais diretamente que a segunda.


Debrucemo-nos sobre a segunda primeiro...




Neste post, podem ler mais sobre as consequências desta lei que limitará a liberdade de expressao na Internet, o maior meio de comunicação que temos ao dispor.

Esta semana vários sites, como a Wikipedia, fizeram "greve" como forma de protesto...e o Jon Stewart também deu a sua perspetiva sobre este tema:





Basicamente, se qualquer empresa achar que um site, vídeo, etc representa uma quebra de direitos de autor ou copyright, podem "fechar" o site e os seus responsáveis podem até mesmo enfrentar uma pena de prisão (nos EUA).

O escritor e professor universitário Clay Shirky também explica bem a problemática nesta conferência TED, com um estilo muito informal (vale a pena ver até ao fim):

 


Este vídeo tem também informação interessante:




(Se preferirem, podem ver uma versao em castelhano, aqui.)

Para já, face a todos os protestos, o debate sobre esta lei foi adiado na Câmara dos Representantes americana.

Ora, quanto ao absurdo projeto de lei do Partido Socialista, também o Bitaites tem vários posts em que se faz uma análise clarificadora do assunto. E, neste caso, basta ir ao país vizinho da Ibéria para encontrar uma lei semelhante. Lá ficou conhecida como a Ley Sinde e já foi aprovada, mas eu gosto mais da designação dada pelo Marco Santos: lei Minority Report.
E, já agora, recorro ao mesmo blogger e aconselho-vos também a leitura deste post.

Segundo este novo projeto de lei, ao comprar equipamento de armazenamento de dados (discos duros, telemóveis, mp3, etc), o consumidor é considerado um potencial pirata informático e, como tal, deve pagar um imposto "por conta" para minimizar as perdas dos "autores" do material pirateado. Esses fundos iriam portanto para a Sociedade Portuguesa de Autores (à semelhança da lei espanhola).

Ora, quando eu compro um cartão de memória para a minha câmara fotográfica é para lá acumular fotografias que são de minha autoria e eu não pertenço à dita sociedade. No entanto, se esta proposta sair avante, terei que pagar um imposto que compense a perda de direitos de...quem?

Isto não faz sentido absolutamente nenhum e portanto é importante que façamos ouvir a nossa opinião e comecemos por assinar esta petição, mostrando o nosso desacordo com a proposta lei 118-XII “Aprova o regime jurídico da Cópia Privada e altera o artigo 47.o do Código do Direito de Autor e dos Direitos Conexos – Sétima alteração ao Decreto-Lei n.o 63/85, de 14 de Março!


Hoje, como sempre, a informação é a nossa melhor arma. E, depois de a termos, devemos agir para manter esse direito e a liberdade de expressão. O mundo artístico só tem a ganhar...exemplos disso não faltam.
Ambas leis só levariam a que uns poucos continuem a ganhar cada vez mais.


terça-feira, 10 de janeiro de 2012

A blogosfera cética na luta pela verdade!

Desde sábado que se pode assistir no canal de televisão privada SIC um novo programa, já classificado de comédia por alguns, chamado "Até à Verdade". Este título, realmente só pode ser irónico, porque este é mais um programa de mentiras descaradas e de charlatanice de cariz vigarista.
Imaginem a seguinte situaçao: tem uma doença, alguém chegar ao pé de si e apresenta-se como médico propoe-lhe uma soluçao e, depois, na verdade era um mentiroso sem formação que só lhe fez gastar dinheiro, ou pior, prejudicou o seu estado de saúde. Consideraria esta pessoa um burlao? Eu diria que sim.

Estes senhores deste programa fazem o mesmo. Dizem que têm uns colaboradores com capacidades que não têm. Dão falsas esperanças, levam pessoas a ficar piores do que estão, porque não estão a encarar a realidade. E ainda cobram por isso.
Não é uma burla aproveitar-se do desespero quem perdeu um ente querido de forma criminosa e agora ver-se na televisão rodeado de promessas (falsas!) de que o crime será solucionado com a ajuda de médiuns?

Não me vou largar mais neste tema porque já muito foi escrito acerca dele nos últimos dias em diversos locais racionais da nossa blogosfera e redes sociais.

Eu própria escrevi um post para o Astro PT, que pode ser lido aqui, focando a burla económica que este tipo de programas televisivos e estes "profissionais do espiritual" representam no desvendar de crimes (e não só).

Uma crónica de opinião de cariz semelhante do Marco Santos pode ser lida no blog Bitaites. 

Também no Astro PT, João Coutinho explica detalhadamente o conceito e as técnicas de leitura a frio (cold reading), neste excelente post. Resumidamente, esta é a técnica usada pela maioria dos ditos médiuns, astrólogos e afins (mesmo que eles próprios não se apercebam de que o estão a fazer).
Neste vídeo, Darren Brown explica o conceito, durante uma entrevista feita para o fantástico documentário The Enemies of Reason, de Richard Dawkins:




Não (diretamente) relacionado com este programa, mas mas diretamente relacionada com esta temática, é também este post do Que Treta!, onde o autor faz uma compilação do tipo de linguagem muitas vezes usada nestes entornos.

E o pior é que este é só mais um programa deste tipo. A cadeia "irmã" da SIC também tem o seu próprio cantinho do género. Podem ler sobre ele aqui.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

HELP! Tenho uma tese de doutoramento por escrever

(O HELP é figurativo...mas aceitam-se sugestões!)


Depois de 7 anos de trabalho de investigação e quase 2 anos de interregno, tenho uma tese por escrever.



Jorge Cham - PhD Comics


Hoje fiz alguma contabilidade...Então, mais coisa menos coisa, foram:

          -  9 saídas de campo, com cerca de 450 animais capturados;

          -  7 experiências etológicas em ambiente laboratorial;

          -  1 estudo genético (a não incluir);

          -  1 estudo comportamental de campo;

          -  1 estudo de química orgânica;

          -  1 estudo de bioquímica;

          -  mais de 230 hora de vídeo gravadas, vistas e analisadas;

          -  cerca de 100 amostras processadas.


Jorge Cham - PhD Comics



E agora penso: que fazer com isto tudo? Por onde começar?

Ufff...fica o desabafo.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Da Ciência e do Governo

Para começar o ano, pareceu-me bem aqui reproduzir um texto de opinião de Francisco Antequera, traduzido do jornal espanhol El País. Foi publicado no dia 29 de dezembro do ano passado e aplica-se tanto à realidade espanhola como à portuguesa. Eles estão a sofrê-lo agora. Nós, desde a mudança de Governo há alguns meses mais atrás. 

Aqui fica.



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Os nossos novos governantes estão compreensivelmente preocupados com o deficit, a dívida e os juros e, nada mais estreados os seus assentos, deitaram mãos à obra para quadrar o orçamento a passo rápido.

As suas excelências são geralmente advogados e economistas e quiçá se tenham esquecido que os seus telemóveis e os códigos dos seus cartões de crédito existem porque muita gente dedica vidas inteiras a investigar as propriedades dos números.

Também se esqueceram que a tinta com a que escrevem e as "massas" que treparam os seus dentes estão feitos com materiais desenvolvidos depois de anos de experimentação. É possível que pensem que as vacinas dos seus filhos ou os comprimidos que baixam a tensão arterial dos seus pais apareceram espontaneamente nas prateleiras das farmácias. Por isso, decidiram que não vale a pena manter um Ministério da Ciência que promova o estudo de extravagâncias como os números, a luz, os genes ou a substância de que são feitas as coisas. Um ministério que, apesar das limitações económicas, defenda a investigação como base da inovação e o desenvolvimento e transmita à sociedade o valor do conhecimento. Um ministério que ofereça uma mínima perspetiva de futuro a uma geração de jovens cientistas que começam a considerar a emigração como uma disciplina obrigatória dos seus estudos.

Com a redução de gastos à força toda, vamos alcançar o rigor mortis dos cristais. Mas suas excelências tao pouco pensam que seja necessário dedicar alguma atenção aos cristais. Embora usem óculos.

FRANCISCO ANTEQUERA

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Espero que o autor não se incomode com o meu atrevimento.
Francisco Antequera é cientista do Instituto de Biología Funcional y Genómica (CSIC / Universidade de Salamanca).